Chapada: Comercialização de frutas, cafés, óleos e vinhos especiais fortalece novo nicho de turismo na região chapadeira


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Ao longo dos anos, a Chapada Diamantina transcendeu sua reputação de destino exclusivamente voltado ao ecoturismo, emergindo como uma peça-chave no cenário do agronegócio no estado. Enraizada em uma rica base cultural, histórica e tradicional, a região também se destaca como berço da comercialização de produtos de alta qualidade, incluindo cafés especiais, frutas vermelhas, vinhos e queijos artesanais.

Essa variedade de oportunidades atrai tanto pequenos empreendimentos locais quanto grandes investidores interessados em explorar o turismo de experiências na região. Um exemplo disso é a trajetória de Jair Galera, um gaúcho que, após ser demitido sete anos atrás, adquiriu um sítio em Mucugê com a intenção inicial de cultivar flores. Contudo, devido à demanda crescente na região, optou por cultivar morangos.

Após a primeira colheita, Jair inaugurou uma pequena loja em sua residência para vender morangos frescos e congelados, e posteriormente expandiu seu negócio para incluir licores e geleias. Observando o interesse dos visitantes em conhecer o processo de cultivo dos morangos, o gaúcho percebeu a oportunidade de oferecer experiências mais imersivas, proporcionando aos clientes a chance de conhecer de perto as plantações e entender o processo de produção dos frutos. “Foi assim que a gente começou devagarzinho abrindo o sítio para este tipo de turismo, e viu a necessidade de plantar outras frutas para agregar mais valor à visitação turística”, contou.

Com um total de 20 mil plantas de morangos em sua propriedade, Jair Galera colhe cerca de 40 toneladas da fruta anualmente, garantindo uma alta qualidade em sua produção. Além disso, ele também realiza uma produção menor de aproximadamente dois mil quilos por ano de amoras, pitaia e mirtilo.

“Eu nunca havia pensado em fazer isso na vida, mas é muito gratificante ver o turista sair encantado e contente de ver de perto as minhas plantações e o respeito que a gente tem com a natureza”, comentou o produtor, que vende suas frutas vermelhas para vários restaurantes de comida natural em Salvador, que as incluem em sucos, drinks e sobremesas.

Outro empreendedor que optou por investir na Chapada Diamantina é João Cerqueira. Ele é proprietário da Akã Óleos Essenciais, uma fazenda de plantas e ervas aromáticas e medicinais localizada no município de Morro do Chapéu. João relata que ele e sua esposa, Ana Cleude, tomaram a decisão de se mudar para o interior após se aposentarem há sete anos, mas não pretendiam ficar inativos.

Inspirados por uma deslumbrante plantação de lavandas na Europa, o casal adquiriu uma fazenda com a visão de criar um lavandário, mesmo sabendo que as lavandas preferem um clima frio e altitude elevada. Em Morro do Chapéu, durante os anos de 2017 a 2021, eles se dedicaram exclusivamente ao plantio, adotando práticas totalmente orgânicas. Surpreendentemente, as lavandas se adaptaram bem e floresceram.

Motivados pelo apoio das filhas e amigos, o casal expandiu seu cultivo para incluir outras plantas aromáticas, como alecrim, capim limão, patchouli, hortelã pimenta, manjericão, erva doce, verbena, e várias outras espécies nativas da região, que proporcionam óleos essenciais exclusivos da Akã. Eles mergulharam em estudos, aprenderam sobre o plantio, produziram suas próprias sementes e mudas, além de se dedicarem à reprodução das plantas. Somente após um ano e meio de árduo trabalho, puderam começar a produzir óleos essenciais em quantidades que justificassem a comercialização.

“Com o tempo, fomos aumentando o nosso portfolio e a capacidade produtiva da fábrica, que é totalmente orgânica e certificada pela IBD. A fazenda produz óleos essenciais desde o ano de 2021 e conta hoje com 18 plantas aromáticas na prateleira”, salientou o fazendeiro.

Por convite e incentivo do Sebrae, o casal está adaptando o lavandário para receber visitantes turísticos. Eles ampliaram suas plantações e espaçaram as plantas para oferecer um ambiente mais convidativo aos passeios e sessões de fotos desejadas pelos visitantes. Essa mudança não apenas expande suas oportunidades de negócio, mas também proporciona uma experiência única aos turistas, permitindo-lhes explorar a beleza das plantações e se conectar com a natureza.

“Está sendo uma nova experiência muito agradável. Nós nunca pensamos em atuar na área de turismo, mas começamos a conhecer esse universo através de simpósios, congressos e treinamentos promovidos pelo Sebrae e, para a nossa sorte, estamos gostando muito”, declarou.

A fazenda Akã produz óleos essenciais 100% puros a partir das plantas, comercializando frascos de 10 mililitros para lojas de produtos naturais, farmácias e uso em aromaterapia. Com uma capacidade instalada de 15 quilos de óleo essencial por dia, a fazenda tem potencial para produzir 1.500 frascos de 10 ml diariamente.

Os visitantes são recebidos na fazenda com foco no lavandário, oferecendo passeios pelas plantações, apreciação da paisagem e até a oportunidade de realizar sessões de fotos, incluindo álbuns de casamento. As visitas guiadas incluem a exploração das plantas aromáticas, permitindo que os visitantes cheirem e macerem as folhas para experimentar os aromas. Também é possível conhecer o laboratório, a caldeira e os equipamentos utilizados no processo de produção, além da loja de produtos da fazenda.

Outro investidor no turismo sensorial é Uvilson Santos, que introduziu o cultivo pioneiro de amoras pretas na Chapada Diamantina após se inspirar em uma palestra do Sebrae. Anteriormente, ele cultivava apenas morangos e iniciou o plantio de amoras após adquirir as primeiras 50 mudas do Rio Grande do Sul.

“Fiz capacitação para entender o processo de produção de amora preta, que é de clima temperado e sazonal, para cultivá-la em regiões não convencionais e fazer a propagação da espécie. Foi uma felicidade conhecer a amora preta, que é uma fruta elitizada, gourmet, de alto valor agregado”, explicou.

Para Uvilson, o processo não foi simples, mas após uma adaptação bem-sucedida à região, ele decidiu expandir seus conhecimentos e descobriu a cultura da framboesa e do mirtilo. Atualmente, ele cultiva as quatro frutas vermelhas com certificação orgânica em uma área de dois hectares de terra, sendo a maior parte dedicada ao cultivo de amoras pretas.

“Nós somos pioneiros no Nordeste na produção de amora e framboesa, e fomos nós que trouxemos essa adaptação para a região. Hoje somos autoridades no assunto”, explicou ele, que vende morangos, framboesas, mirtilos e amoras pretas na loja Casa das Frutas Vermelhas, localizada em seu Sítio das Frutas Vermelhas, em Mucugê, e outra loja no centro da cidade.

Novo nicho de turismo
Localizado a apenas um quilômetro da trilha que conduz ao Vale do Pati, o sítio foi integrado à rota das frutas vermelhas, um projeto planejado para ser lançado no mercado turístico neste ano pelo Sebrae. Diante da crescente demanda, o proprietário buscou capacitações para garantir um atendimento de qualidade aos visitantes.

“Colocamos o sítio aberto à visitação que, além dos pomares, tem uma vista deslumbrante do paredão da encosta de Mucugê. Agora a gente oferece uma experiência sensorial ao visitante, que tem aparecido a cada dia mais”, destaca o empreendedor.

“Essa cultura recente da Chapada Diamantina, de atrair um novo perfil de visitante para vivenciar novas experiências, tem incrementado o fluxo turístico para a região, fazendo com que as pessoas fiquem mais tempo no destino”, afirmou o secretário estadual de Turismo, Maurício Bacellar. Jornal da Chapada com informações do portal A Tarde.


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Glauber Gomes

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